sábado, 23 de abril de 2011

fluir-se.

No meu posto de observação lá na serra , o caminho das grandes formigas na estrada amarela, o vento forte espalhando o sol pelo corpo, naquele lugar com os miúdos insetos e flores bravas. Agora aqui nesse quarto azul questiono: Não apenas minha condição imortal de ar, desejo, espécie ,  no descampado lugar da miragem  onde me vejo alvorecer, mas também as flores bravas e todo esse  capim surgido ao redor dos olhos. No Imaginário mutante do meu organismo não há como escapar desse sistema de ocupação, dessa condição demasiada humana.
Essa noite flutuei fora do meu corpo, senti no peito uma espécie de turbina me impulsionando, escutei aquele barulho parecido com a da mudança de estação de rádio, entre uma rádio e outra fui até o outro lado do muro que cerca meu prédio, entrei no matagal e segui um pássaro, não era noite nem dia. Tenho essa sensação tão verdadeira quanto a de saber que fui ontem almoçar com amigos e de ter visto as crianças brincarem.
O cheiro da urze que vem do meu quintal transbordam imagens e saliva, na sincronia interna e externa de uma só membrana celeste, inerentes como a deglutição o é. O gosto do café com omeletes, cartola e tapiocas de queijo qualho fazem toda a natureza impessoal ficar mais repleta de cores. E quando fico deitada recebendo a chuva forte estalar na face me dá a vívida impressão que sou o chão e o teto. Neste momento em que me afago de sons por todos os poros, escuto as ondas de ar e cílios propagando efeitos colaterais benéficos ao meu sistema digestivo. Minhas papilas exercem tamanho teor de espumas quanto o mar e suas tubérculas frases. No sistema técnico regido por batimentos cardíacos singulares que jamais repetem a frequência, no estado de abandono persistente que rege a direção do fluxo sanguíneo, estou, entre o que se move fora e o que se multiplica dentro.

1 comentário:

  1. "e todo esse capim surgido ao redor dos olhos"

    "Neste momento em que me afago de sons por todos os poros"

    "Minhas papilas exercem tamanho teor de espumas quanto o mar e suas tubérculas frases"
    no estado de abandono persistente que rege a direção do fluxo sanguíneo, estou, entre o que se move fora e o que se multiplica dentro. Desvelos."

    Imagens. É dessas imagens que eu falo e ninguém vê. Só tu.

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