segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Noite das bicicletas

Nas ruas da pele
pontos fixos me situam
na altura do sonho que passa
um mais um a cada instante.
Náufragos noturnos
nessa janela que não dorme.
Do outro lado as bicicletas
viram setas enforcadas
em direção a luz.


...

Jo Gui

sábado, 28 de agosto de 2010

La notti di vermelho

Duzentos kilos de espera. Trazia na alma.
Trezentos tiros no peito. Uma dúzia de afagos.
Meia tonelada de incertezas.Trazia na alma.
Tirou a roupa. Tudo veio a tona. Tudo veio.
Naquela noite A voz era desejo e falava falava. Alada.
Delirante e inquieta a madrugada aos poucos sugava o vai e vem dos copos.
Dançou a beira de precipício.
Ficou descalça sobre as pedras o mar lambeu seus dedos com volúpia.
Viu a aura camalear nas cores ambar e azul. Sorriu como uma desvairada. Por um instante tornou-se possível. Por um único instante flutuava.

Som alucinado ao redor, olhos e boca em foco.
Ela diz:
Vc vem me abraçar?
Ele diz:
Vou
Ela diz:
Vem
Ele diz:
Vamos dançar?

...


Jo Gui

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A janela e a bicicleta

Nessa janela cinza tem um catavento colorido que não pára de girar. Tem uma bicicleta com asas de aço que se contorce muitas vezes e fica do tamanho de uma mala. (Foi um presente que me identificou bastante).
tem deslizes e força rochosa na leveza do caminho que suas mãos percorrem.
Baila quando chega a alvorada de idéias luminosas, vê vulcões nos olhos e na voz , feito um pombo solto o som de suas asas batendo quando vem e quando vai. Prefere sempre escutar o ainda não ouvido antes.
O vento é percebido quando quer adentrar sua sala. Ele é bem vindo e faz assobios melódicos e massagens na pele.


Josi Guimarães

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Aura em Brasa

O tempo mestiço fecunda
Aquela que arde
Da noite escaldante
Fôrma, cúpula, foice

Lençol do medo
Estéreo
Ébano palpitante
Himineu em sua alcova

Das éguas das Arábias
A candura e o fogo
Desejo polido
Mármore do advento

Veneno em cascata
Escorre nos dedos
Seu último desejo
Curto, súplice.



Josi Guimarães

terça-feira, 10 de agosto de 2010

sombra de um abacateiro

Nas veias cerradas as lixas provam
pele escamada , sulcos longos e pintas
uma árvore estrondosa numa colina
grande a tempo de ver da estrada
na saída e na entrada
da cidade fantasma.


Johsi Guimarães
...


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Chuva agora na Aurora 1155.

No meu tempo entre
a chuva volta e meia bate
entreaberta molha
o assoalho.
entrega
As mãos esticadas
os dedos alongados
as gotas
massagens
e prismas.

Quase Crônico de Miró

Encontrei o poeta Miró na sexta passada na Fundaj, fui ver Uma noite em 67 e quando acabou lá estava com uma caixa de papelão cheia de livros e sua mãe do lado. Um filme sobre ele seria passado em seguida e ele estava ali pra comemorar e viver sua real poesia. Seu aniverário de 50 anos e o lançamento do livro Quase Crônico. Foi um presente. Fui uma das primeiras. Comprei logo claro. Ganhei um abraço caloroso e amável e as palavras dele na primeira página, com carinhas desenhadas em cada Ó e o capricho de quem ama mesmo.  Para Josi  c:)m  am:)r  carinh:) e paz. Mir:)´.

Eu amo tbm.
Sua voz de gato de rua
seu olhar que já viu e vê muito.

...
A questão não é se há luz no fim do túnel
A questão é você entrar no túnel.
Miró da Muribeca.


Devorei o livrinho em poucos minutos e como sempre ele me deixa vontade de ver logo o próximo.
É por aqui que anda a locomotiva da via. Várias faces e foices formas vínculos afetos. Jogando na areia e na teia a verdade que me aceita e aceita todas as formas e escolhe quem convém ficar. Fica? fica? nesse espaço meu teu nosso de estar. Basta ficar!. Me acolher entre os dedos. Pegar minha cintura e firmar uma vontade. A minha. De entregar os delicados desejos pueris. Estou a vontade. Vc me deixa ficar a vontade? Posso tirar outra peça? Meus dedos dos pés andam cheios de calos, começo por eles. Descalça.





Depois de ver o jornal me veio isso. Notícias de sempre.

Na surdina
escorre em veias
trépidamente
sonhos.

Ouve-se imóvel
o ronronar das bestas
telestransplantadas
torres.

Quadros por metro
estampas variáveis
costuradas
cores salva-vidas.

...

Ver televisão é um crime ao coração.

domingo, 8 de agosto de 2010

Primeiras Íntimas Impressões

Escuto-me. Vários tons me fazem ouvir mas a minha nota preferida da escala é a Lá. Maior e menor. Lá me encontro e aos outros. A liberdade de expressão me acorrenta a técnica de como me expor. Não fiz curso de letras, meu impulso é meu ventre e meu peito que bate em ritmos alternados. Meu ventre só acolhe e expulsa. Sangue e vidas. Este é o meu primeiro texto aqui por que quero expandir os decibéis incultos em minha inconsciência. Ativá-la sempre ao ponto de emudecê-la sempre. Me conhecer como a sede de beber o conhecimento alheio. Uma ponte. Um eixo. Um meio.
Pode chegar. Com amor e curiosidade infantil. Te aceito.