domingo, 28 de outubro de 2012

O poema veste-me com filopluma e bárbulas sem ganchos.

No Ar

Outro dia me pus a conter
todos os pássaros que via nas mãos
os negros
os papo-amarelos
os azuis
e os brancos
Tive que os pôr de cabeça para baixo/
como fazem com as galinhas antes do abate
Mas eu não os abateria/ era só uma maneira
de conseguir segurar uma quantidade maior
de pássaros/ até que
de repente
no debater das asas
estava eu ali
prestes a cair das nuvens.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

violação



com a máxima dos cânticos
com as pistas das cordilheiras
a nevasca e o pólen
gélido da saturação
venho venho venho
trazer-te um vício são
um fragmento da névoa
uma intoxicação
se teu zumbir for de sinos
de lástimas e grãos
se for de madeira mórbida
de faísca pulverizada
dos filamentos da devoção
ao ato falho
a trituração da máquina
fez a função dos pedaços
cada um para um lado
cada lado uma porta
cada pedaço um corpo
na meta das violações
uma centena delas
migraram para fora
retorcidas e imóveis
camadas de carne
sobre o deserto
livre livre livre

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

terra azul



onde quando foi
retirada as fibras
onde quando foi
incineradas as
crianças azuis

/na volta da terra vi
gados na estrada e
pássaros pretos volteiam
vi gados e gente quase
gente quase gados
na terra riscada/ renda traçada
caminhos rachados
até a gente azul
que vive nas casas
de terra e árvore/

onde quando seria
a paleta das cores
onde quando seria
na pele flamejante
água doce a reserva

?