terça-feira, 26 de outubro de 2010

* continuo depois

A doce maré da cachaça que desliza quente na garganta me lembra a infância, meus primeiros gestos da vida. Escorregando pelos desvios entre as fendas , cascos, assoalho de cimento e pólvora.
As manhãs virgens incandescentes estudando o catecismo e as fábulas de um corpo em chamas.
Durante o dia as larvas do sol escorregam ao chão em ondas de um mar imaginário. Ácido.
As pequenas pétalas ingênuas desbravam essa luz, sem pestanejar. Fazem parte dessa espécie de pasto gelatinoso a centímetros do chão. São delas a obrigação de trazer encanto aos dias salgados. De dar elasticidade ao olhar.
Na planície, cobras fluídicas acompanham contínuas a maciez da crosta. Do manto do intemperismo. Cobras de duas cabeças, dois extremos vitais. Manhãs quentes demais e noites frias.
Em terras como essa o amor vive interrompido como o clima que muda em poucas horas a cada aurora, demonstrar mais do que o necessário é desperdício de afeto. A economia é, sem dúvidas, a moeda da subsistência até nesse lugar progressivo do sentir.
A cachaça é então o sol que se pôs dentro do corpo pelas próprias mãos, Deus em si, queimando a lenha dos sonhos.

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