sábado, 23 de outubro de 2010

As flores azuis da colina branca desajeitada em meio aos corredores de pântanos, estavam esperando as mãos e os olhos do Senhor.
Não estariam daquela maneira se o sol as cobrissem, é o contrário que se tem ali, são elas que resistem e cobrem o amarelo intenso das lástimas do Sol. Sua luz é rarefeita e atinge velozmente as cabeças e a pele ressecada da imaturidade. Ela faz tricô com fios de lama, com a rouca palavra de catarro verde. Com o veludo amargo e musgo da indiferença. Ela enche os cântaros de cuspe e febres. Não sabe receber elogios nem dá o que não tem. Sua trajetória é transformar água em vinho, pedra em pão, abrigar-se,  embriagar-se e alimentar-se.
A renda da mesa esticava os cravos distorcidos nas palmas das mãos que a tocava.
Os ferrôes expulsavam da garganta a fome das vozes. Soltas. Queria sorrir como os felizes. Queria a morte das obrigações da casa, lavar os pés , cortar as unhas e pentear os cabelos para sair dali. Queria muito além da violência acostumada em si, acostumada a gostar da dor que ama amar a si.. Era mais uma suicida dos becos da música certamente, vivia a cantar diante das pias repletas de pratos sujos, dos banheiros imundos e das facas na carne. Era um homem quando paria e era uma mulher quando se deitava para a morte. Era uma criança, antes até das que estavam ali no quintal brincando com as pedras no jardim de terra.
Não quer rótulos mas aceita a marca nas palmas das mãos ou nas nádegas. Sua reza é uma língua afiada no cú da vaidade. Sangrar, sangrar, derramar o leite dos peitos, com essa fome continuada. No infinito deles e delas e também no meu, a proximidade é feita de permissão.

j. gui.

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